Os pinos e os dados que os jogadores usam são de plástico. O dinheiro, ainda que de mentira, também. Jogos clássicos de tabuleiro que reproduzem situações financeiras do cotidiano e acompanham a infância dos brasileiros há várias gerações, como Banco Imobiliário e Jogo da Vida, se adaptaram aos novos tempos e adotaram o meio de pagamento que vem sendo usado por um número cada vez maior de consumidores: o cartão, seja de crédito ou de débito.
Independentemente do formato usado para comprar, vender e receber salários, esses jogos dividem a opinião de especialistas em educação infantil e em finanças. Para Maria Márcia Malavasi, coordenadora do curso de Pedagogia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), se houver orientação por parte de pais e professores, os jogos podem ser úteis para a orientação financeira.
— Quando usados por pessoas responsáveis, os jogos são bem-vindos. O que não se pode é incentivar a exploração do outro — diz.
Respeito ao dinheiro
O educador financeiro Reinaldo Domingos condena o fato de o Jogo da Vida permitir que o participante fique no vermelho:
— O jogo pode levar a criança a entender que isso é normal e criar um hábito de pedir dinheiro emprestado.
Mudança de regra para ensinar
Para evitar que a criança entenda o endividamento como algo normal, Maria Márcia Malavasi sugere uma mudança na regra, para educar.
— Pode-se estabelecer um limite para o jogador entrar no vermelho, eliminando quem ficar devendo — sugere.
O psicólogo Luís Antônio Monteiro, coordenador pedagógico nacional de Psicologia da Universidade Estácio de Sá, apoia a adaptação dos jogos de tabuleiro aos novos tempos:
— Os jovens vão aprendendo como funcionam os cartões.
Ainda segundo ele, esses brinquedos abrem a oportunidade de discutir sobre o dinheiro. Quanto ao endividamento, ele avalia que ficar no vermelho no jogo não traz consequências graves para o futuro.
— Aos poucos, a criança vai percebendo que não se pode ganhar o jogo acumulando dívidas — comenta.
O psicólogo entende que a versão com cartões de crédito é mais adequada para quem tem mais de 12 anos, porque, a partir dessa idade, já se desenvolve um pensamento mais abstrato, que facilita a compreensão das transações feitas com cartões.
— Para os mais novos, a versão com cédulas é mais apropriada — afirma.
Fonte: Extra Globo